O custo ambiental da construção da cidade de Dubai nos Emirados Árabes Unidos

 


A cidade de Dubai, localizada nos Emirados Árabes Unidos, é amplamente reconhecida por seu desenvolvimento urbano impressionante e por sua arquitetura futurista, que atrai turistas, investidores e empresários de todo o mundo. Sua transformação, que se deu principalmente a partir das últimas décadas do século XX, é uma das mais rápidas e notáveis da história recente. Com arranha-céus de altura recorde, como o Burj Khalifa, a maior estrutura do planeta, e ilhas artificiais como a Palm Jumeirah, a cidade se tornou um ícone do progresso e da modernidade. No entanto, por trás de toda essa inovação e crescimento, esconde-se um custo ambiental significativo, que resulta de um modelo de desenvolvimento altamente dependente da exploração de recursos naturais, da construção em larga escala e da geração de resíduos, sem considerar adequadamente as consequências a longo prazo para o meio ambiente.

Dubai, como muitos outros centros urbanos contemporâneos, tem sido construído em um território árido, com escassez de recursos hídricos naturais e um clima desértico. A cidade, que hoje é um dos maiores polos financeiros, turísticos e comerciais do mundo, precisa enfrentar o desafio de suprir as necessidades de uma população crescente, ao mesmo tempo em que lida com a preservação ambiental em um cenário de escassez de recursos e grandes demandas energéticas. O custo ambiental da construção de Dubai se reflete principalmente na utilização intensiva de água e energia, na degradação dos ecossistemas locais e no uso extensivo de materiais de construção que demandam enormes quantidades de recursos naturais.

A primeira questão relevante é a água, um recurso essencial para qualquer atividade de construção, especialmente em uma cidade como Dubai, onde as fontes naturais de água doce são extremamente limitadas. O uso de água potável para irrigação de áreas públicas e paisagismo foi uma das primeiras críticas ao modelo de desenvolvimento urbano da cidade, que, em sua busca por replicar paisagens luxuriantes e áreas verdes em meio ao deserto, recorreu a sistemas de irrigação intensivos, muitas vezes com o uso de água dessalinizada. A dessalinização da água do mar, embora seja uma solução prática para um país com tão poucas fontes de água doce, é uma tecnologia que implica um alto consumo energético e resulta em emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global. Além disso, a extração de água do mar também pode prejudicar os ecossistemas marinhos, caso não seja realizada de maneira sustentável, com a utilização de tecnologias que minimizem os impactos na biodiversidade aquática.

Em relação à energia, a cidade de Dubai tem se apoiado fortemente no uso de combustíveis fósseis, principalmente o petróleo e o gás natural, para suprir suas necessidades energéticas. Embora o emirado tenha investido em algumas iniciativas de energia renovável, como o complexo solar Mohammed bin Rashid Al Maktoum, que promete ser uma das maiores fontes de energia solar do mundo, o ritmo de transição para fontes de energia limpas ainda é modesto quando comparado ao tamanho do consumo energético necessário para manter uma cidade em crescimento acelerado. A construção de arranha-céus e a operação de sistemas de ar-condicionado em grande escala, essenciais para garantir a habitabilidade em um clima desértico, são fontes de alta demanda energética. Em um ambiente onde o consumo de energia elétrica é altíssimo, o impacto ambiental da dependência de fontes não renováveis torna-se cada vez mais significativo.

O uso de materiais de construção também é um fator relevante no custo ambiental da cidade. A construção de infraestruturas como o Burj Khalifa e a Palm Jumeirah demandou enormes quantidades de concreto, aço e vidro, materiais que, por sua vez, envolvem processos industriais intensivos em energia. A produção de cimento, por exemplo, é responsável por uma grande quantidade de emissões de CO2, e sua utilização massiva em grandes obras implica em uma contribuição significativa para as mudanças climáticas. Além disso, muitos desses materiais precisam ser extraídos de fontes distantes, o que acarreta um impacto ambiental relacionado ao transporte e ao uso de combustíveis fósseis.

Outro aspecto importante a ser considerado é a degradação do ambiente natural devido ao processo de urbanização e construção em áreas anteriormente desabitadas. As ilhas artificiais, como a Palm Jumeirah, embora sejam uma maravilha da engenharia, tiveram um impacto significativo nos ecossistemas marinhos e na fauna local. A construção dessas ilhas exigiu a dragagem de grandes volumes de areia do fundo do mar, o que resultou na destruição de habitats marinhos naturais, afetando a biodiversidade marinha e interrompendo os padrões de migração de espécies de peixes e corais. Além disso, a pressão sobre as áreas costeiras também contribuiu para a erosão e o desgaste dos ecossistemas costeiros, que são vitais para o equilíbrio ambiental e a proteção contra desastres naturais.

A construção e a urbanização aceleradas de Dubai também impactaram a fauna terrestre local. A retirada de grandes áreas de desertos e a substituição da vegetação nativa por jardins e paisagens artificiais afetaram a biodiversidade da região. Muitas espécies animais, adaptadas ao clima árido e ao ecossistema local, foram deslocadas, perdendo seu habitat natural. A construção de grandes avenidas e infraestruturas também fragmentou os habitats naturais, dificultando a migração e a sobrevivência de algumas espécies.

O modelo de crescimento de Dubai, embora tenha sido um motor de desenvolvimento econômico e prosperidade para o emirado, revela os desafios de uma urbanização sem planejamento adequado no que diz respeito à sustentabilidade ambiental. O custo ambiental de sua construção é substancial e, para que o emirado continue a prosperar de forma sustentável no futuro, é imperativo que busque novas abordagens para mitigar os impactos ambientais de suas atividades. Isso pode incluir a expansão do uso de energias renováveis, a construção de sistemas de gestão de resíduos mais eficientes, a implementação de soluções sustentáveis no uso de recursos hídricos e a promoção de práticas de construção mais ecológicas. Dubai, como uma das cidades mais icônicas do mundo, tem a responsabilidade de demonstrar como é possível conciliar o progresso com a preservação do meio ambiente, adotando estratégias que minimizem seu custo ecológico e promovam um modelo de crescimento mais equilibrado e sustentável para as próximas gerações.






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